Sem dúvida que de manhã não trabalho. Ontem estive aqui até ao limite para me ir embora, saí atrasada para o que tinha a seguir, a pensar que havia tanto para fazer e devia ficar mais uma hora.
Hoje chego cedo, para o meu habitual, o trabalho ficou exactamente onde o deixei - ainda não tem o dom de se realizar sozinho - e estou há quase uma hora a inventar o que ver na internet sem conseguir fazer alguma coisa útil.
Se cresci a ouvir fado, conhecer fadistas e guitarristas, hoje sinto uma espécie de "aversão" (que parece estar a neutralizar-se com o tempo) ao tão apreciado agora pela minha geração. Mas penso que nunca conseguirei falar com ninguém da minha idade sobre fado porque nele pertenço a duas décadas atrás.
Adiante, que isto é uma coisa difícil das pessoas perceberem porque pra eles o fado nasce agora, quando eu já o enterrei. Mas não o matei porque ele está bem vivo como se viu nos últimos dias e teve hoje o seu reconhecimento oficial.
Não negando anos e anos da minha vida, ontem fui ao Museu e vi O Fado mesmo, mesmo à minha frente sem que nada o anunciasse e fiquei muito contente porque foi a concretização de uma das canções que a minha avó mais cantava lá por casa enquanto cozinhava. E o alguém que Deus já lá tem traz-me nostalgia em muitos sentidos.
Faltou ter ao meu lado quem soubesse do que estava a falar quando vi a viola-baixo do Joel Pina e fiquei tão entusiasmada. Mas como aqui a realidade é outra, guardei para mim.
Talvez leve lá os meus pais na próxima semana. Eles hão-de apreciar.
E como este é um assunto que mexe sempre comigo, no dia em que ele entra para a categoria da minha recente paixão, o tango, aqui fica este fado que canta um quadro que o representa. Difícil de explicar, melhor sentir.
Teatro, ..., tango, teatro, fotografia... É isto a minha vida.
E se há dias que chego a casa depois de 3 horas a interpretar, outros há, como hoje, que só penso que raio me porão a fazer no exercício final, que eu não tenho jeito nenhum para aquilo...
Não fosse achar que a casa vai voar ou que me entra uma antena pela janela e neste momento até estaria a apreciar os flash que disparam sobre a cidade. Mas não, fico enrolada no sofá com os olhos esbugalhados a olhar para a janela.